terça-feira, novembro 21, 2006

Sozinho….

…Triste

Uma voz…

…Ouvir-me a mim mesmo

Nada mais que ilusão…

…mas foi bom acreditar…

… que exististe.

terça-feira, novembro 07, 2006

Choro púrpura num relâmpago sem fim


- Vem para ao pé de mim. Senta-te aqui ao meu lado. Lembraste da história que te contei?
- Lembro-me.
- Nada do que te contei acontece na realidade. É o mal das histórias de amor, das histórias de aventura, das histórias policiais. Só as histórias de drama é que são as mais verídicas. De uma forma ou de outra, reflectem sempre uma experiência vivida, uma dor realmente sentida.
- Mas há muitas histórias de romance que acontecem mesmo como são contadas. Talvez menos que as de drama, mas acontecem.
- Não tenhas tanto a certeza disso. Mas também, só o futuro é que dirá, e o que te espera, se é que realmente está à tua espera, mais tarde ou mais cedo irá acontecer.


Fechou o diário, sentindo a sua capa dura de couro, e pouso-o em cima da secretária de mogno antiga, ao lado da caneta de madeira, velha e gasta. Levantou-se, aproximou-se da janela e observou a rua à sua frente, iluminada por aquelas luzes tremeluzentes dos candeeiros. Destrancou o fecho e abriu a janela, fazendo chiar a pesada porta de madeira branca, já carcomida pelo tempo. Aproximou-se do corrimão, enferrujado e velho, e deixou-se ficar, de olhos fechados, enquanto sentia a chuva a cair sobre a sua cara, sobre o seu corpo, ensopando toda a sua roupa. De repente, por fracções de segundo, viu um clarão branco através das suas pálpebras, seguido de um som estridente de um trovão. Abriu os olhos. Não se tinha assustado. O sinal havia sido dado. Esticou os braços, para cada lado do seu corpo, e murmurou o que lhe haviam ensinado. Uma aura púrpura circundou-o. A chuva começou a cair com mais força e vários relâmpagos surgiam em intervalos cada vez mais curtos. Uma lágrima ameaçou cair, mas ele, com toda a sua força, tentou segurá-la – isso seria o fim. O fim de tudo. Ele não podia deixá-la cair. Entrelaçou as mãos uma na outra, ao nível do peito, e fechou os olhos. Murmurou o que faltava dizer para acabar com o serviço. O tom púrpura começou lentamente a mudar para tons violetas e arroxeados e mais uma lágrima tentava prepotentemente libertar-se. Ele não estava a aguentar muito mais e com toda a força que ainda guardava dentro de si, gritou. Gritou o mais alto que podia. Foi aí que aconteceu. A primeira lágrima havia se soltado das suas amarras e caiu. Acompanhando o seu movimento, diversos raios começaram a atingir o meio a seu redor e a destruição começara. Ele ajoelhou-se e, agarrado ao corrimão, deixou-se levar por aquele choro que há tanto tempo guardava dentro de si. Choro de saudades, choro de frustração, choro de desilusão. Todos os tipos de choro. Sentiu alguém atrás de si. Virou-se sobre si mesmo, com o coração sobressaltado. E viu! Lá estava a silhueta que ele tanto sentia falta de poder tocar, de ter a seu lado, de dormir a seu lado. Queria voltar ao passado, sentir a sua voz, a sua respiração enquanto o aconchegava para dormir, de lhe dizer um bom dia antes de tomar o pequeno-almoço. Mas a visão durou pouco tempo, pois desaparecera com a mesma velocidade com que aparecera. Os relâmpagos continuavam a surgir atrás de si à medida que chuva ia alagando tudo a seu redor. Tentando se acalmar, levantou-se e sentou-se em cima do corrimão que, com o seu peso, começara a balouçar enquanto gemia. Sem se preocupar com a estabilidade do velho corrimão, atirou-se para o chão iluminado por aquelas luzes amarelas. Jazendo no chão, uma mancha de sangue começou a circundar o seu corpo, já sem vida, já sem aura, já sem nada.

Acordou na manhã seguinte cheio de dores no pescoço e na base das suas costas. Meio estremunhado reparou que tinha adormecido em cima do diário. Ainda com o sono recente na sua cabeça, aproximou-se da janela e reparou que estava destrancada. Abriu-a com medo e aproximou-se do corrimão. A noite cobria a rua à sua frente e apenas se vislumbrava a calçada iluminada pela luz tremeluzente dos candeeiros. O céu estava coberto com nuvens, mas não chovia nem trovejava. Ouviu barulhos atrás de si e num sobressalto, virou-se e viu à sua frente um gato preto e branco, sentado, de olhos esverdeados, olhando-o fixamente…

- Sabes que uma das coisas que sempre me disseram foi para não acreditar em tudo o que dizes.
- É normal, vocês não querem acreditar no que não gostam de ouvir.
- És um pouco confuso.
- Todos somos.

sexta-feira, novembro 03, 2006


Somos tão pouco, valemos tão pouco…
A novidade aparece… gostamos de a ver…
Tentamos agradar-lhe… vemos que não conseguimos…
Tentamos mais uma vez… já repara em nós…
Repetimos e agradamos mais… um ano depois tudo acaba…
A simpatia desaparece… a ilusão desmancha-se…
Frustração por termos perdido tempo com ela…
E no final, não ganhamos nada, perdemos muito,
Perdemos tempo, perdemos sorrisos, perdemos lágrimas…
Perdemos tudo e ganhamos menos ainda.