Sentou-se à beira do lago banhado pelo luar daquela lua redonda e imponente. Por momentos concentrou-se nos sussurros da noite – o barulho das rãs, dos mosquitos, dos arbustos ao serem levemente abanados pelo vento… e do seu próprio soluçar. Tentou concentrar-se ainda mais no ambiente à sua volta mas era impossível continuar a fugir aos pensamentos que o levaram àquele lugar.
Acordou por volta das oito horas, vestiu-se e tomou o pequeno-almoço à pressa para não chegar atrasado à escola. À uma e meia da tarde voltou a casa para almoçar e a seguir pegou nos livros que deixara de véspera e continuou o estudo. Mais tarde lanchou à medida que via televisão e jantou por volta das sete e meia. A partir da meia-noite já se deitara para um novo dia. No dia seguinte tudo recomeçou, tal como no dia a seguir a esse e no seguinte e no seguinte e no seguinte… Todos os dias eram iguais. Havia, deste modo, um certo conforto, pois assim conseguia ter segurança na sua vida, em si e no seu exterior. Pouco ou nada lhe fugia do controlo. Era um bom aluno. Seus pais orgulhavam-se dele e não tentavam esconder o filho que tinham aos amigos. Os seus avós faziam o mesmo. Todos achavam graça à sua forma de encarar os estudos: por boas notas, sorria ou pedia por mais, por más notas, chorava ou enervava-se. Perfeição era a palavra que, segundo uns, o definia. Outros, maluco.
A sua vida era perfeita. Tinha uma família maravilhosa que o aceitava como era, ajudava-o se tivesse algum problema, tratava-o sempre com amor e eram muito unidos. Os seus amigos não ficavam por trás, se precisasse de ajuda com certeza que o ajudariam e todos gostavam da sua forma alegre de encarar a vida, da sua extroversão, da sua generosidade…
Apesar de tudo, a sua vontade em desaparecer aumentava de dia para dia. Um sentimento de angústia e tristeza crescia cada vez mais. Ele tinha consciência que estava a chegar aos seus limites e a sua força em querer continuar com o ciclo de dias diminuía a olhos vistos. Contudo, e o mais engraçado, é que ninguém reparava nesse seu desespero. Ele até sabia a resposta: nunca mostrava aquilo que tinha, escondendo os seus sentimentos pondo uma máscara de rapaz feliz e contente com a sua vida dita perfeita. Não desabafava, aliás, nem conseguia pois ninguém com certeza iria ter paciência para o ouvir e, caso tivessem, não saberiam como ajudá-lo tal era a estranheza em vê-lo fazer algo que nunca fazia ou que nunca ninguém esperasse que fizesse. No fundo, e o que mais o magoava, era a falta de sensibilidade por parte das pessoas que o conheciam. Era um facto que ele desenvolvera uma sensibilidade em codificar os sinais aparentemente alegres como meras capas com o objectivo de tapar sentimentos como a tristeza, o desespero ou uma profunda mágoa. Contrariamente, ele também sabia que cada ser é único e que cada um desenvolve aptidões e capacidades diferentes que juntos levam à formação de um todo no qual existe uma interacção e uma interdependência entre cada um. No entanto custava-lhe não ser correspondido da mesma forma com que os tratava - não ser avaliado nem codificado, o que muitas vezes levava-o a perguntar-se até que ponto era importante para os outros.
Parou de soluçar ainda sentado, com os joelhos dobrados e próximos do seu peito tendo os braços, um de cada lado, a agarrá-los. Levantou a cabeça e apoiou-a entre os joelhos, olhando sem alma para os reflexos sombrios do luar na água do lago. O seu corpo permanecia naquele local, mas a sua mente já há muito que tinha evaporado, tal como a sua alma, que fugira sem remorsos, em busca dos motivos que o levaram ali, a agir daquela forma. Com os olhos vermelhos e brilhantes de lágrimas secas, levantou-se e aproximou-se do lago, deixando-se penetrar na viva e gélida água, tornando-se parte desta. A partir desse instante, todos os sons da noite deixaram completamente de existir e uma leve nuvem cobrira a lua qual criança envergonhada que deixara cair um pingo de gelado na sua roupa. Fechou os olhos, levantou a cabeça para o céu negro, sentindo o frio a entrar pela sua roupa, queimando a sua pele, e esperou que voltasse a ser iluminado pelo luar, para que a lua testemunhasse o seu acto e o tentasse compreender, que o procurasse entender. O frio começava a dominá-lo e ele já nem sentia as pernas, enquanto a sua respiração abrandava obrigando-o a inspirar mais profundamente o ar, expirando pelos lábios arroxeados nuvens densas de vapor. Finalmente, a lua dignou-se a aparecer, fitando-o com o seu luar. Abriu os olhos e fitou a lua com igual intensidade. Deixando de sentir o frio, estendeu os braços para cada lado do corpo e deixou-se cair para trás, num movimento rápido e preciso, batendo com a cabeça nas rochas, desmaiando de seguida, libertando as últimas bolhas oriundas da sua respiração.
“Acorda!”
Seu pai foi acordá-lo pois apenas faltavam quinze minutos para o toque de entrada na escola. Acordou, acendeu a luz e mentalizou-se para o recomeço das suas obrigações diárias, para a continuidade cíclica dos seus dias e para a sua vida…
2 comentários:
nem sei k dizer, simplesmente ñ devemos de esconder os nossos sentimentos temos de ser verdadeiros para com a nossa alma antes do k para o corpo e mente.
ñ sei mm k dizer, tokou me mm este post.
remember my friend, like u've said to me once before, i'm here.
este texto lembra-me uma pessoa k conheci a relativamente pouco tempo. tu tb a conheces... espero k saibas de km estou a falar.
essa pessoa era mto semelhante a este rapaz pois parecia mto feliz e alegre, m eu ñ sei ate k ponto e k essa pessoa e realmente assim.
gostei mto do texto pk esta lindo. espero tb k a pessoa de km estava a falar perceba o k kis disser. conheces-la melhor k eu por isso diz-lhe k pode contar smp comg. jinhos. o texto esta lindo
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