sábado, maio 05, 2012

Lágrima perdida


À minha volta oiço o silêncio,
E nesse silêncio procuro-te.


Essa ausência palpável no ar que me cerca.
Essa lágrima que desce sozinha na face.

Esse pensamento egoísta que me consome,
esse desejo profundo que me enforca.


Choro. Grito. Chamo-te.

E tu afastaste mais.
Abraço a solidão e oiço a melodia sem som,

onde atraco a minha consciência

na realidade que tento fugir.


E à minha volta continuo no silêncio,
E nesse silêncio volto a procurar-te.

Sem escutar nenhuma resposta,
apercebo-me da triste verdade  em que vivo,

onde nem oiço o eco da minha própria voz .


Nisto o pano cai,
revelando o que está escondido.

Essa verdade que ninguém quer ver.
Nem ouvir, nem saber.

E continuo onde comecei,
sem nunca, tampouco, ter começado.




terça-feira, dezembro 27, 2011

No silêncio sem tempo


O cheiro da inexistência aproxima-se.
Esse vento lento e sedutor,
que me leva para aquilo que quero encontrar.
Mas sem saber, ou sem querer ver,
sinto o beijo do silêncio.
E enquanto a penumbra abraça-me
nessa ausência de tempo consigo rever-me.
O mundo, a vida, a morte.
No seio de sangue perco-me.
Procuro fingir que tenho quando se parte,
pois na noite escondo o que vejo,
no dia exponho o que não tenho.
Arde e consome-me
e no nada desapareço,
sem memória me vêem,
sem corpo me encontram.
No silêncio da morte apenas o vazio.
Uma alma oca.
Uma alma perdida
e desvanecida no tempo.
.
Há momentos assim que tenho de escrever.
Foto encontrada num web site.

segunda-feira, abril 11, 2011

Migalhas de mim

http://www.youtube.com/watch?v=6Ujng5sB3LA Porque a melodia embala. A letra enaltece. Os anjos dançam E a nossa alma agradece. Vale a pena ouvir esta música no youtube: Dark Sanctuary - Les Affres de la crematión

sexta-feira, abril 08, 2011


Fechei a porta de carvalho maciço e dirigi-me para o carro, enquanto tirava as chaves do bolso lateral das calças. Fechei-me dentro do carro, certificando-me que as portas estavam bem trancadas e coloquei a chave na ignição. Sabia que não tinha muito mais tempo, mas não consegui iniciar a marcha. O meu coração doía-me em demasia para sentir que a vida fazia sentido.


Controlei a maré de lágrimas que ameaçava cair e encostei a cabeça ao suporte superior do banco com os olhos fechados. Sem aguentar mais, liguei o motor de vez e sai do parque de estacionamento. O caminho de carro para a tua casa foi na sua maioria feito em silêncio profundo, alternando por vezes com as tão habituais vozes não naturais que nos últimos dias me perseguiam.



Fui sincero quando disse que te amava. Fui honesto quando me entreguei a ti. Amo-te se é isso que queres saber. Amo-te como nunca amei ninguém. Sacrificava a minha vida de bom grado pela tua, sem hesitação, se isso te permitisse viver para alcançares os sonhos que tanto ambicionavas.



Parei o carro frente ao teu portão de grades verdes, ornamentado com ramos e folhas de metal que se contorciam sobre si e desliguei o carro. Ouvi novamente as vozes. A porra das vozes que me atormentavam dia após dia, semana após semana. No inicio eram difusas e espaçadas no tempo, assustando-me completamente quando surgiram. Fizeram-me pensar que estaria louco, endoidecido na totalidade do meu ser. Mas não, em grandes momentos de ansiedade o cérebro pregava-nos partidos, tinham-me explicado, no entanto, sabia que mesmo nos períodos mais calmos, as vozes mantinham-se na minha cabeça. Aquele murmúrio incessante, que só terminava quando queria, como se fosse detentora de vontade própria.


Olhei para o teu portão e foi o suficiente para me deixar cair no abismo de sentimentos que me estrangulava a alma. Chorei. Chorei sem parar, até ficar com dificuldade em respirar, obrigando-me a engolir em seco para não inspirar qualquer tipo de conteúdo para os pulmões. Senti-me gradualmente mais vazio por dentro, o abismo onde mergulhei começara a inundar-me, cada vez mais profundamente. As vozes voltaram em força, personificando o ar à minha volta, numa intensidade crescente, obrigando-me a colocar as mãos nos ouvidos numa tentativa frustrada de abafar o som.



Porque me abandonaste? Porque me obrigas a ter de arranjar todos os dias motivação para viver quando nada mais me interessa? Tenho tanta pena que tenhas desperdiçado o tempo que tinhas com o teu trabalho, colocando-me em segundo plano se tivesses num período de maior stresse. Não consigo olhar para trás sem pensar que perdemos tanto e vivemos tão pouco.



Sai do carro sem o desligar, tampouco me importei em fechar a porta. Queria tanto ver-te uma última vez. Abraçar-te como no último dia, sentir a segurança que esse aperto tão só nosso nos transmitia. Obriguei-me a consciencializar-me que isso tinha terminado. Esses dias não se iriam voltar a repetir. Desapareceste da minha vida sem em avisares. Dói-me tanto. Sinto-me tão enganado; enganado por ti, pelo que experimentámos, pelo que vivemos. Sentei-me em frente ao teu portão e continuei a chorar.


Estava sozinho na rua e a noite já se instalara há muito quando as vozes reapareceram de uma forma ainda mais presente, mais assustadora. Uma nuvem esbranquiçada surgira à minha frente, formando um círculo em meu redor . Lentamente a nuvem à minha volta começou a transformar-se em vários corpos com uma forma humanóide, como se fossem pequenos duendes dos contos infantis, que ficaram estáticos, observando-me, enquanto os seus lábios desenhavam pequenos trejeitos numa fala incompreensível. Os murmúrios intensificaram-se e senti um formigueiro no pé que depressa percorreu o meu corpo, tornando-o cada vez mais leve. Como se a física não tivesse mão neste assunto, o meu corpo elevou-se no ar, ao som do coro de vozes que me rodeavam, deixando que a brisa fresca da noite primaveril me refrescasse.



O cansaço e o desespero apoderaram-se de mim e nada me dá mais vontade em continuar a viver. Quero ir para junto de ti, quero voltar e viver o que não vivemos. Quero voltar a ver-te a rir, a roubar-me as torradas do pequeno-almoço, a limpares-te à toalha quando terminas o duche. Quero voltar à minha – nossa – normalidade.



O cheiro da terra revolvida, misturada com o cantar matinal dos pardais encheram-me a cabeça quando acordei. Senti dor em cada parte do meu corpo, pelo que me demorei mais a levantar-me. Olhei para o espaço à minha volta e não pude acreditar no que via. O cemitério estava vazio àquela hora do dia, como seria de esperar, pelo que tentei recordar como havia chegado ali, mas a minha memória parecia entorpecida, como se quisesse acompanhar o estado do meu corpo. Reparei na lápide à minha frente e com dificuldade tentei ler o que lá se encontrava escrito, não querendo acreditar quando vi o meu nome lá gravado. Finalmente compreendi o que as vozes me queriam transmitir.



Afinal a culpa é irrevogavelmente minha. Estraguei tudo o que tínhamos, estraguei as nossas vidas. Destruí o que podia ter sido construído.

Espero que me perdoes.

Um dia.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Mar e magia



Olhou para o mar e para as crianças que lá se banhavam, gritando e atirando a água para o ar de modo a aproveitarem as gotas que caiam para se refrescarem, rindo excitadamente.

Sentou-se à beira-mar. Adorava ter as mãos a brincar na areia, enterrando nela os dedos e apertando aquele aglomerado de pedras e cristais minúsculos, sentindo-os entre os dedos. Por outro lado amava sentir a água que as pequenas ondas lhe traziam no final da ondulação, molhando-lhe as pernas e os calções, refrescando-o num ciclo contínuo de onda atrás de onda.
Reparou pelo canto do olho que alguém se sentara a seu lado, mas não lhe dera importância. Sentia-se demasiado perfeito para se preocupar com quem estava à sua volta. O mar. A areia. O Sol. A brisa vinda do mar. Os quatro elementos ligados e a trabalharem em sintonia.

Enquanto pensava no puro sentimento que estava a viver naquele momento ouviu uma voz rouca, mas quente, perto de si, sussurrando-lhe junto do ouvido. Olhou na direcção da voz e reparou que estava sozinho. Continuou a procurar a sua origem, girando a cabeça em várias direcções, mas sem sucesso. As crianças continuavam no seu intenso frenesim. Não podiam ter sido elas, pensou, pois estavam demasiado longe. Lembrou-se da presença que sentira a seu lado e que não havia dado importância. Tentou procurá-la, mas nada, nem ninguém, se encontrava perto de si.

Encolheu os ombros. Provavelmente imaginara a voz.
Levantou-se e caminhou em direcção do mar, sentindo o nível da água a aumentar e a envolver-lhe o corpo, à medida que entrava cada vez mais fundo naquele manto azul. Mergulhou, deixando-se ficar debaixo da água. Aquele silêncio proporcionava sempre um encontro consigo mesmo, um momento de introspecção no qual recordava os doces anos da sua infância, quando vivia despreocupado e sem se deixar levar pelas complicações do dia-a-dia.
Tinha dois anos quando pisara a areia pela primeira vez na companhia dos seus avós. Parecia-lhe magia a forma como os seus pés desapareciam no chão por sua própria vontade.

- Tudo é magia – dissera-lhe uma vez o seu avô, depois de terem ido juntos ao cinema ver a estreia do filme “O Rei Leão” – reparaste como o Simba se sentiu mais feliz e mais forte quando, à noite, olhou para as estrelas e sentiu a presença do seu pai, perto de si, como se estivesse vivo? Ele acreditou e viu. A partir de magia, fez a sua própria magia e isso fê-lo sentir-se mais corajoso. Se guardares um pedaço de borracha – daquelas que utilizas na escola – e acreditares que ela te vai dar força, ou alegria, ou sorte no amor, então, estás a fazer magia. Lembra-te sempre que a magia existe, quando acreditas e queres que ela exista.

Tinha saudades do seu avô, das suas sábias palavras, das histórias de aventura que viveu nos seus anos de adolescência rebelde, dos seus ensinamentos, dos seus abraços…

Os seus pulmões já exigiam oxigénio quando colocou a cabeça sobre a superfície da água e inspirou profundamente. Inclinou-se para trás e deixou-se flutuar, sentindo o quente do sol, em contraste com o frio da água. Calor e frio, a eterna dualidade dos opostos. A sua sintonia. O seu yin e yang.

Perdera a fé na magia a partir dos onze anos, quando o seu avô falecera à sua frente, atropelado por um camião de carga. Ainda tinha presente na sua cabeça o dia em que o seu avô morrera. As imagens passavam-lhe diante dos olhos, como se ainda fosse hoje: o avô a pedir-lhe para esperar à porta do prédio, enquanto ia ao café comprar-lhe um doce – um chupa-chupa encarnado e em forma de coração, com sabor a cereja, seu preferido, que o avô sempre lhe oferecia – a visão do camião a rodar qual pião, após o condutor, um homem velho, de óculos com hastes de massa castanha e com grossas lentes, ter carregado a fundo no pedal do travão; o som dos pneus a derraparem no solo; o seu avô com os olhos aberto de surpresa, em estado de choque, vendo o automóvel a deslizar na sua direcção.

Voltou a mergulhar, procurando o silêncio de morte que tão bem conhecia, onde as lágrimas se difundiam no extenso mar. Desejou permanecer eternamente naquela ausência de significado, de importância, onde podia ser quem era, ou o que era. O nada constante ou o tudo vazio.

- A ausência de magia na tua vida leva-te a um estado de vazio, de nada, pior que a própria morte.

Abriu os olhos, observando por baixo da superfície do mar os raios solares que banhavam aquelas águas. De novo aquela voz, quente e rouca, que tão bem conhecia.
Voltou à superfície. As crianças já lá não estavam, possivelmente tinham ido para terra, deitando-se nas toalhas enquanto as mães preocupadas tentavam colocar chapéus nas suas cabeças.

Sentiu uma dor aguda no peito. Algo dilacerava-lhe o corpo. Sentia dificuldade em respirar, que agravava com a entrada de água salgada devido à agitação que os seus braços provocavam no mar.
Deixou de sentir, de ver, de ouvir. Começou gradualmente a perder a consciência, sentindo-se novamente leve… e finalmente liberto.
A última coisa que ouviu foram uns gritos angustiados de duas, três ou mais mulheres, não sabia, ao longe.

- A magia está dentro de ti e à tua volta – dissera-lhe o avô, quando se dirigiam ao McDonald’s. – Simba encontrou-a nas estrelas, Timon e Pumba no lema de vida Hakuna-matata. Tu um dia irás encontrá-la, basta olhares bem para o mundo à tua volta e, claro, para dentro de ti.

sexta-feira, abril 03, 2009


Another head hangs lowly,
Child is slowly taken.
And the violence caused such silence,
Who are we mistaken?

But you see, it's not me, it's not my family.
In your head, in your head they are fighting,
With their tanks and their bombs,
And their bombs and their guns.
In your head, in your head, they are crying...


Corri para ti quando vi que estavas a sangrar.
Olhei-te nos olhos, deixando-me envolver pela cor de âmbar e mel.
Reparei que choravas. Mas não quis pensar na possibilidade de te perder.
Garrotei a tua perna, na esperança vã de estancar a hemorragia.


Another mother's breakin',
Heart is taking over.
When the vi'lence causes silence,
We must be mistaken.

It's the same old theme since nineteen-sixteen.
In your head, in your head they're still fighting,
With their tanks and their bombs,
And their bombs and their guns.
In your head, in your head, they are dying...



Porquê? Porquê tanta desgraça, tanto ódio, tanta raiva…?
Não merecias morrer. Porque tiveste que pagar pelos outros?
Odeio-os!
Quero ter-te aqui de novo, ao pé de mim, para poder beijar-te. Apenas uma vez mais …

In your head, in your head,
Zombie, zombie, zombie,
Hey, hey, hey. What's in your head,
In your head,
Zombie, zombie, zombie?
Hey, hey, hey, hey, oh, oh, oh,
Oh, oh, oh, oh, hey, oh, ya, ya-a...


Música e letra de Cranberries – Zombie
Um clássico!

quarta-feira, outubro 22, 2008

Lembranças num livro velho



- Mudaste tanto... tens noção disso?
- Naturalmente que sim. Tu fizeste-me crescer.
- Não é altura de te despedires do que de mau existe?
- Parece que sim.
- Então de que esperas? Procura o teu passado num livro e rasga o que lá encontrares!


Olhei para a tua fotografia, fizeste-me sorrir e fechei finalmente o livro...